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Os desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente de trabalho

Estudo feito pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) mostra que 72% das mulheres já sofreram assédio no ambiente

corporativo

Texto de Kamilla Abely e Thaís Letícia

Quando se fala de violência contra a mulher, o assunto toma diversas abrangências. Existe a violência que acontece dentro do ambiente doméstico, aquela que acontece em locais públicos e, não se pode esquecer, daquela que acontece da forma mais disfarçada possível: o assédio no trabalho.

 

Estudos apontam que as mulheres sofrem três vezes mais assédio no ambiente de trabalho do que os homens. E essa violência pode acontecer tanto na forma moral, que é quando a funcionária é exposta a situações humilhantes e constrangedoras, como também o sexual, que é quando a colaboradora é submetida a constrangimentos com conotação sexual.

 

Embora as mulheres estejam, em sua maioria, presentes nas empresas, ainda há muitas barreiras enfrentadas pelo público feminino todos os dias. Um estudo feito pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) mostra que 72% das mulheres já sofreram assédio no ambiente corporativo.

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Em relação às medidas protetivas mais eficazes, de acordo com a pesquisa da Aberje mencionada no início desta reportagem, 55% das mulheres acreditam que o assediador deve sofrer punições mais energéticas, 40% falou sobre a implementação de mecanismos eficazes de acolhimento às reclamações, 36% acredita que se deve trabalhar mais na sensibilização dos homens e, por fim, 34% apoia a ampliação da participação feminina nas instâncias de poder da organização.

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Como identificar o assédio?

 

Identificar o assédio nem sempre é algo tão simples quanto parece. Isso porque, muitas vezes, ele ocorre de forma tão disfarçada, que fica difícil para a vítima entender até que ponto tal atitude é apenas gentileza ou assédio.

 

A microempreendedora de 48 anos de idade, Quezia Acioly, relata que já sofreu situações de assédio em seu antigo emprego, e explica como começou a perceber que tais comportamentos por parte de figuras superiores não eram normais.

 

“Descobri que estava sendo assediada pelo meu gerente e meu supervisor, quando vinham algumas cantadas do tipo ‘fica mais um pouco’, ‘vamos dar uma esticadinha e sair para jantar’ ou ‘vou te promover para outro setor, mas primeiro quero te levar para jantar’.  E não foi só uma vez, eram várias. Pegava na mão, no ombro, durante a reunião pegava na perna, e daí por diante”.

 

Acioly também falou sobre a sensação de impotência em estar convivendo com assediadores e não poder denunciá-los por medo do que poderia acontecer.

 

“A sensação é horrorosa. Você se sente impotente. E eu tinha que conviver com os dois assediadores, porque eu sabia que se eu denunciasse na ouvidoria da empresa eles viriam com alguma retaliação”.

 

Quezia, além de microempreendedora, é mãe de três filhos, dentre eles, uma menina de 25 anos de idade. Ela conta que, como mãe, sempre pensava, com medo, se algum dia sua filha passaria por algo desse tipo, ou pior, como violência sexual, por exemplo.

 

“Como mãe, eu fiquei pensando ‘será que minha filha vai passar pelo que eu passei? ou um filho em algum lugar? porque eu já vi muitos casos e relatos não só do assédio, mas também do estupro’”. 

 

O que fazer quando sofro assédio no trabalho?

 

Apesar de ainda ser algo recorrente, existem algumas medidas que podem colaborar tanto na proteção da vítima como também no entendimento dos seus direitos. A advogada Adriana Bezerra faz parte da Comissão Especial da Mulher (CEM), criada pela Ordem dos Advogados Advogados do Brasil (OAB), e explica como a lei ampara as vítimas desse tipo de violência. 

 

“Se alguém possui conhecimento de que existe uma pessoa que está sofrendo esse tipo de assédio na empresa, é importante conversar com a vítima para que ela procure o setor de recursos humanos e informe o que está acontecendo. Assim, o assediador será penalizado por justa causa”. 

 

Ainda segundo a advogada, na OAB, por exemplo, existe um canal de denúncia chamado “Ouvidoria da Mulher” em que as vítimas podem efetuar suas denúncias não só sobre esses como, diversos tipos de casos.

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A Comissão Especial da Mulher em defesa das vítimas de violência

 

A Comissão Especial da Mulher é voltada para atender casos de violência e violação dos direitos de qualquer mulher. Esse grupo atua na promoção do acompanhamento de casos e inquéritos relacionados ao tema.

 

O comitê também realiza trabalhos preventivos como palestras de conscientização e alerta sobre a violência contra a mulher, onde é abordado como identificar, evitar e prevenir.

 

“Dependendo de como esse caso chegue, seja pela ouvidoria, denúncia ou até mesmo através da imprensa, nós acompanhamos e nos disponibilizamos para atender as vítimas e seus familiares”, explicou a advogada. 
 

O assédio materno na firma

 

Definimos assédio moral como a exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras no ambiente de trabalho no exercício de suas atividades, de forma repetitiva e prolongada. Essa conduta, que traz danos à dignidade e à integridade do indivíduo no ambiente de trabalho, também pode ser sofrida pelas gestantes e mães, sendo intitulado “assédio materno”.

 

Tal assédio laboral em virtude da maternidade pois, acontece contra as mulheres em uma ou mais das fases da maternidade: gravidez, licença-maternidade ou lactação, sendo entendida como toda discriminação trabalhista das mulheres pelo mero fato de serem mães.

 

A profissional de Relações Públicas, Aline Dias, mãe solo em tempo integral da Ana Elis, conta que passou por poucas situações de assédio materno, classificando-as como “clássicas”.

 

“Algumas delas foi em entrevistas de emprego, onde os recrutadores estavam querendo saber se eu tinha filho, quantos filhos, se tinha com quem deixar, se o filho é saudável, etc. Cheguei a escutar essas indagações, inclusive, em entrevistas coletivas e percebi que a pergunta sempre era direcionada somente às mulheres, como se ter filho fosse só responsabilidade da mulher, como se só a mulher tivesse responsabilidade sobre a criança”, destaca Aline. 

 

Além disso, Aline destaca também a falta de flexibilidade para cuidado da criança, como questionamento sobre sobre faltas quando o filho está doente. “É uma violência velada, não escancarada, comentavam ‘Nossa, mas a sua filha está doente de novo?’, às vezes a galera esquece que tem direito trabalhista que protege as mães.

 

Apesar das situações, a comunicadora revela que a atuação no mercado de trabalho, referente à maternidade, tem sido mais tranquila que no ambiente acadêmico. Aline destaca a pressão sofrida em sua dupla e/ou tripla jornada enquanto mãe (solo) e profissional. 

 

“O fato da gente precisar trabalhar como se não tivesse filho e cuidar do filho como se não precisasse trabalhar é uma conta que nunca fecha. Isso gera na gente uma ansiedade, uma angústia, sentimento de culpa e impotência, de não estar dando conta. No final das contas, é isso que acontece, porque a gente não consegue dar conta de tudo 100%. Infelizmente, eu costumo brincar quando me perguntam sobre as diversas ocupações que coleciono, eu digo que pego tudo isso porque eu não consigo me doar 100% para absolutamente nada, e não é mérito, faço por necessidade, não é porque eu acho bacana me sobrecarregar”, enfatiza Dias.

 

Aline ressalta a importância da criação de políticas públicas que assegurem a saúde das mães e consequentemente dos seus filhos, sobretudo do ponto de vista financeiro, para não precisar se submeter a qualquer tipo de ambiente de trabalho.

 

- A necessidade de dois empregos vem pela questão monetária mesmo porque não existe um programa que ampare mães solos, pago a escola pra minha filha porque não tem creche para ela estudar, tudo isso sai do meu orçamento. A pensão que ela recebe do pai não cobre sequer a mensalidade da escola, então, se eu não me viro pra trabalhar em 3 lugares, a conta não fecha no final do mês.

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