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Público só o ambiente: A luta da mulher para pôr em prática o direito de viver livremente em sociedade 

Texto de Allana Dias

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Andar pelas ruas sem medo nem sempre é possível para mulheres, os caminhos não se tornam mais longos apenas nas noites escuras, mas também em dias claros e algumas vezes a hipótese de sair sozinha está fora de cogitação. Esse temor não é fruto da desconfiança da mulher, mas sim dos relatos crescentes de formas de abusos cometidos contra o sexo feminino em ambientes públicos.

 

Os transportes estão constantemente nos topos das discussões quando a pauta é a segurança feminina, já que são utilizados diariamente e por milhares de brasileiros e não oferecem suporte para proteção adequada para o combate dos abusos. Uma pesquisa realizada em setembro deste ano pelo Instituto Patrícia Galvão revela que 45% das mulheres entrevistadas já tiveram seus corpos tocados em ambientes públicos.

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Os perigos enfrentados não estão apenas nos ônibus. É cada vez mais comum ouvir relatos de mulheres que passaram por verdadeiros pesadelos ao solicitarem corridas por transportes por aplicativo. Maria Luiza Dantas foi uma delas, segundo a jovem, o fato aconteceu em Maceió e deixou marcas difíceis de apagar da memória.

Mas buscar por direitos femininos não é uma luta de agora, durante anos mulheres enfrentam grandes batalhas para conquistar um mundo mais justo e igualitário para o sexo feminino.

 

Para alcançar mais espaços e seguir uma batalha pelos direitos femininos, muitas mulheres entram na vida política, mas o acesso não é simples. Mesmo com a Emenda Constitucional n°97/2017 que obriga os partidos políticos a indicar no mínimo 30% das mulheres filiadas a concorrerem aos cargos públicos, nas eleições deste ano Alagoas não elegeu nenhuma das deputadas federais.

Teca Nelma, uma das candidatas ao cargo estadual e filha de Tereza Nelma, candidata ao cargo federal, reconhece que a mulher ainda tem grandes obstáculos a serem derrubados para que a sociedade comece a enxergar o potencial político nelas. “As mulheres enfrentam diversos desafios como a tripla jornada de trabalho e ser reconhecida enquanto agente político. Nós temos apenas noventa anos de voto feminino, outro problema é encontrar um partido que a gente se identifique, mas que o partido te aceite e divida os recursos financeiros com você. Tivemos um enorme avanço com a cota de gênero de 30%, mas mesmo assim ainda é uma batalha grande conseguir fazer todo esse processo’.

 

Durante os combates diários para expressar seu posicionamento, as candidatas enfatizam a persistência para ganhar voz, mesmo com lutas desde o início, como relata a presidente da UP (Unidade Popular) em Alagoas, Lenilda Luna. 

 

“Desde a infância e adolescência eu tive que enfrentar a violência doméstica, porque meu pai era alcoólatra e me batia muito, então eu já cresci combatendo o machismo. Eu comecei a militar muito jovem, com 18 anos. O primeiro partido que eu me filiei foi o PT e eu já entrei na direção. Não foi fácil porque eu era muito jovem e não me levavam a sério. Então eu tive que bater na mesa, que gritar e me impor, principalmente pela argumentação. Mas quando era preciso eu também me impunha na força, porque às vezes as pessoas não escutam por ser uma mulher jovem na política. Acham que é só bonita, é só legal, mas não vêm como liderança”.

 

Lenilda ajudou a construir a Unidade Popular em Alagoas e hoje se encontra como dirigente, segundo ela, essa nova fase mais madura é mais tranquila. “Não é que não tenha machismo, mas é diferente quando você já é uma referência e tem uma liderança reconhecida. O respeito é maior. Mas não é que eu não enfrente situações de machismo ou tentativa de silenciamento: elas acontecem sempre, infelizmente. Mas é com outra maturidade, com outra autoridade e legitimidade, diferente de quando eu tinha meus 18 anos que foi realmente muito mais difícil”.

 

Vestida para viver

 

Ter a liberdade para fazer o que se sente bem também é um problema. Inúmeras mulheres são julgadas e usadas pelo jeito que se comportam, para onde saem e como se vestem. Como foi o caso da Mariana Ferrer, que foi abusada em uma casa de festas em 2018.

 

Na época, "Mari" como era conhecida, fazia trabalhos de modelo e blogueira nas redes sociais e era de seu costume sair para divulgações em festa. Segundo relatos da própria vítima e de familiares, naquela noite a menina foi dopada e estuprada por um dos frequentadores do local. Durante o julgamento, Mariana foi humilhada pela forma que estava vestida na noite do crime e por estar em uma casa de festas. O caso acabou com a sentença de “estupro culposo” para o abusador.

 

Com a era digital é corriqueiro encontrar pessoas se escondendo através de perfis em redes sociais para julgar mulheres. Bruna Leal Torres sabe bem o que é isso. A jovem tem 21 anos e desde os 15 trabalha como influenciadora digital e possui mais de 50 mil seguidores só no Instagram.

Bruna conta que começou a gravar vídeos dançando e postando nas redes sociais, só que até então tinha pouca visibilidade pois eram voltados apenas para os seguidores da época. Mas um cantora acabou repostando um de seus vídeos e o número de visualizações cresceram de uma forma muito brusca e foi aí que começaram as agressões pela internet.

 

“Vieram muitos comentários principalmente diminuindo minha intelectualidade, por que eu danço no Instagram eu não sou inteligente ou que eu não sei cozinhar. Muito desmerecimento por eu gravar vídeo dançando. Vejo muito preconceito, embora hoje em dia está bem melhor, mas no início eu só não fui chamada de bonita”.

 

Com o passar do tempo Bruna começou a lidar melhor com esse tipo de retorno, mesmo assim ainda existem situações difíceis de superar.

 

“Hoje em dia quando eu recebo esses comentários, se for de homens eu bloqueio, se for mulheres as vezes eu respondo ou deixo pra lá. Mas eu já cheguei a receber nudes de homens e é  muito constrangedor, é terrível!” concluiu.

 

Mas a denúncia desses casos nem sempre são realizadas e dificultam que os responsáveis paguem pelos seus atos. Para a advogada Elaine Pimentel, ainda temos uma rede de informações fracas para mulheres acerca do assunto.

 

“A gente tem uma legislação atualizada com uma proteção constitucional: à intimidade, à privacidade, à dignidade humana, são princípios constitucionais. Mas é preciso fortalecer as informações para todas as mulheres sobre essa situação e a capacitação de profissionais para acolher as vítimas e fazer o boletim de encaminhamento e a investigação qualificada para chegar ao responsável”. 

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